Agora ou nunca! (conto)
"Erwin, também embalaste os calções de banho"?
"Erna, como sempre, o azul. E o óleo de sol e a toalha de banho e as sandálias de praia também", grita Erwin Krüger à sua esposa do quarto. Ele fecha a nova mala preta e coloca-a da borda da cama sobre o tapete branco.
"Erwin, tem de se apressar. O táxi chegará em breve", soa a voz da Sra. Krüger a empurrar para fora da cozinha.
Ele não responde e suspira enquanto se olha ao espelho. "Erwin, quem és tu?" murmura, olhando para os vestígios que quase sete décadas de vida lhe deixaram no rosto, acariciando o seu queixo liso, barbeado e enrugado e examinando o seu cabelo à medida que este se torna mais leve. Os caracóis de cabelo grisalho ainda não podem ser domados. "Se eu soubesse", responde ao seu reflexo, franzindo-lhe a testa.
Frau Krüger entra no quarto de dormir.
Ela segura um saco de pano para ele: "Pois no caminho.
"Obrigada". Erwin afasta-se do espelho e agarra o saco. Ele já sabe o que tem dentro: uma bomberníquel de corte duplo com queijo, um pão de presunto amanteigado, uma maçã, uma laranja de sol Capri e dois lenços refrescantes para a estrada. Tudo, como de costume, pela vigésima vez este ano. Debaixo da árvore de Natal estava novamente o bilhete para o voo de dez dias para Mallorca. Todos os anos ele encontra-se lá com dois velhos amigos dos seus estudos. Durante o dia eles mergulham no mar e à noite no bar do hotel.
Mas este ano, nada se tornaria como sempre. "Erwin, o que se passa contigo", perguntara a si próprio na sua caminhada diária à tarde. Faltava-lhe a antecipação familiar da viagem. "Meu, pensa nisso", fez-lhe cócegas. "Tudo corre como de costume". Cada minuto parece pré-programado. E mesmo em Maiorca já se sabe quando e como vai acontecer. Será isso vida? Tick-tick, tick-tick, tick-tick, tick-tick..."? Ele estava assustado e olhou à sua volta. Regista céu cinzento, calçadas limpas, jardins frontais bem conservados, nenhum movimento perceptível, nem mesmo o vento rodopiava através das árvores e arbustos. Tudo parecia estar parado. Apenas o relógio da vida nele assinalado.
A velha cabine telefónica amarela apanhou o seu olhar. Durante anos tinham-no integrado na cena da rua, na esquina. Mas nesse dia ela chamou-lhe a atenção, porque por uma vez alguém fez um telefonema, gesticulando. Que o telefone ainda estava a funcionar de todo! Empurrava trechos de palavras para o exterior. "O tempo está fantástico... Há aqui palmeiras, muitas até"...
Palmeiras? O tempo está lindo? Onde? O chamador desconhecido acabou de arranjar um álibi! Ele já não ouvia mais. É isso: fugir, apenas fugir da rotina, envolver-se noutra coisa, viajar para algum lugar, fazer algo que ninguém esperava dele. O funcionário bem cuidado, bem guardado, de confiança, entretanto aposentado. Ele sentiu-se como Erwin na secretária da escola. "Chamavam-lhe o "nerd". Ele odiava frequentemente o seu comportamento virtuoso - e mesmo assim não encontrou coragem para o combater. Até este momento, nunca tinha escapado ao papel de um bom aluno.
"Erwin, agora ou nunca", recordava-se ele próprio.
No dia seguinte, disse aos seus amigos para saírem sob um pretexto. Isso foi mais fácil do que ele pensava. Agora preparou-se para uma viagem sozinho a Berlim. O que, cidade da sua infância, que o repelia e atraía, tinha-se tornado estranho e no entanto permanecia familiar. Não disse uma palavra à sua mulher sobre os seus planos, porque queria fazer tudo do que pensava que seria de esperar que fizesse.
A cabina telefónica tornou-se o seu aliado secreto. A partir daí alugou um quarto num pequeno hotel em Prenzlauer Berg, telefonou a um velho amigo, ficou contente com o seu convite, marcou um encontro com ele e encomendou bilhetes para uma noite de cabaré no cardo. Foi o suficiente de um programa fixo. O resto do tempo ele apenas se deixava levar à deriva - e fazia uma viagem de descoberta.
Erwin Krüger está agora a caminho da estação. Na sua mão ele sente o peso da nova mala, embalada para Mallorca, e em todo o seu corpo o sentimento excitante de um bom jovem que irrompe. Ele hesita por um momento na bilheteira. "Erwin, não belisque", encoraja-se a si próprio e exige um bilhete para Berlim com voz firme. Quando embarcou no ICE, esperava que também lá houvesse cabines telefónicas. Precisa delas para informar sobre palmeiras, praias e maravilhosos banhos.
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